22 abril, 2008

Enfim….civilização!!






Os primeiros dias em Prato são emocionantes. Depois de duas semanas na montanha sem Internet, rede e sem ver pessoas (a não ser o Carlo!!) a mudança para a casa nova foi feita com um grande entusiasmo. A casa é pequena, mas amorosa e suficiente para nós. Estamos a 20 minutos a pé do centro, mas quando tiver a minha bicicleta será mais fácil e agradável.
Aproveito para conhecer a cidade e para passear um pouco. Prato não é uma Roma, mas a primeira impressão é bastante positiva. O D´uomo é o ex-libris da cidade, mas há também uma série de igrejas e igrejinhas e outros monumentos que também têm a sua beleza.Mas acima de tudo, Prato é uma cidade industrial.
Tudo aqui se encontra facilmente, mas por muitos momentos penso que estou na China tendo em conta a quantidade de chineses que por aqui existem por metro quadrado. Mato saudades dos gelados e das pizzas. Tudo isto é único-penso.
O melhor é que Prato fica a 10 minutos de comboio de Florença.o bilhete é barato, a cidade linda.por isso será uma paragem obrigatória durante estes sete meses.

Despedidas em Cantagalllo…





As poucas horas que faltam para me mudar para Prato são aproveitadas para disfrutar tudo o que este sitio me deu.calma.tranquilidade.bem-estar.
Como pano de fundo, tenho à minha frente uma paisagem que quase cega os meus olhos de tão bela que é. Aproveito o silêncio à minha volta para pensar um pouco nestas duas semanas que já passaram.
Aos poucos tudo parece mais simples. Se alguma vez me passou pela cabeça voltar para Portugal isso agora está completamente fora de questão. Estou realmente bem aqui.
Obviamente que sinto falta de muita coisa e de muita gente.Algumas vezes, à noite, há sempre uma lagrimazita que cai no meu rosto.Sinto falta do sorriso, do abraço quente, do carinho de quem faz parte da minha vida e por isso faz parte de mim.

Desde que aqui cheguei muitas são as vezes em que penso em todos aqueles que fizeram parte do meu Erasmus. Itália faz-me lembrar e ter saudades de todos.

Penso em todas as boas coincidências e sorrio. Olho à minha volta e sinto-me uma privilegiada.diria mesmo uma sortuda.nos ultimos tempos tenho vivido muita coisa e de uma forma muita intensa.
Hoje sou uma pessoa ainda mais feliz e realizada.

O horizonte faz-me também pensar um pouco em mim.na minha vida.faz-me pensar nas histórias mal resolvidas finalmente com um ponto final. Em noites impossíveis de esquecer.em pessoas que por isso são inesqueciveis. Em momentos que ficaram por acontecer.em desilusões e tristezas.em amigos que deixaram de o ser.em amizades que se reforçaram.em amores impossiveis. Em palavras que ficaram por dizer. Em despedidas que ficaram por fazer.
Falando em despedidas....time to go!

Os cavalos



E porque na verdade vim para cá para trabalhar e porque chega de não fazer nada… eis que nos é apresentada a agenda para o mês de Abril e de Maio: trabalhar num centro de hipismo. Na verdade, o desafio é bem mais interessante do que à partida aparenta. Depois de uma pequena volta pelo centro e feitas as explicações sobre o seu funcionamento, somos apresentados aos grandes protagonistas deste centro: os cavalos.São imensos.Todos têm um nome e uma característica. Aprendemos a limpá-los e a colocar e tirar celas.Todos que aqui trabalham são impecáveis e procuram sempre ajudar-nos.Basicamente, a nossa função é acompanhar crianças e adultos com deficiência que aqui fazem terapia: a hipoterapia. E é na verdade impressionante como se comportam quando estão sob a presença de cavalos. Há uma mudança óbvia de comportamento, como se os cavalos tivessem um efeito tranquilizante sobre eles.
A melhor parte de tudo é que temos tido lições privadas e exclusivas para aprender a montar. Para mim tem sido um verdadeiro desafio, porque apesar de achar é que um animal altamente bonito e elegante por outro lado assusta-me de morte. Mas quem sabe ainda regresso a Portugal uma autêntica cavaleira!!
Até Junho- altura dos campos internacionais- passarei algum tempo aqui. Mas na verdade o trabalho é pouco pesado. No máximo trabalho 5 horas e há dias que apenas 3.E depois ainda há os dias em que chove e que passamos a tarde a jogar matraquilhos.Que chatice…=)

15 abril, 2008

Auguri a me!!



Um dia de anos um tanto ou quanto estranho e completamente diferente. Á meia-noite do dia 7 de Abril aqueles que são agora os meus companheiros de aventuras e confidências cantaram-me devidamente os parabéns em italiano, com direito a um coro bastante afinado. A noite prolongou-se até as tantas e entre muitos copos de vinho, risos, disparates e muita diversão senti-me bem rodeada e acima de tudo feliz. Um agradecimento a todos aqueles que não se esqueceram de enviar uma mensagem ou email.Foi com um grande sorriso que os recebi. Senti-vos apesar de longe muito perto de mim e que tudo continua a fazer sentido mesmo não estando em Portugal.
O dia de anos em si passei-o a trabalhar. Estivemos a cuidar de umas 50 criancinhas que muito próprio da sua idade eram demasiado barulhentas.
Com um cansaço evidente por termos dormido poucas horas houve ainda forças suficientes para jantarmos fora. O dia convidava a um programa especial e assim foi. Já com saudades de comer uma boa pizza o restaurante não podia ser melhor.
A noite acabou num bar com música ao vivo.

Legambiente e Le Cave






Deixei-me antes de mais fazer uma pequena introdução sobre o trabalho da Legambiente- organização com quem estou a trabalhar. A legambiente é na verdade a maior organização italiana em matéria de ambiente que desenvolve sobretudo acções de educação ambiental. Trabalha sobretudo com crianças e adolescentes numa reserva natural: Riserva Naturale Acquerino Cantagallo. Aqui se desenvolverá sobretudo o nosso trabalho. Enquanto esperamos os campos internacionais e das crianças de Chernobyl há que fazer o trabalho mais chato. A Cave recebe ainda aos fins de semana pessoas que nas suas caminhadas por lá passam. Esta espécie de pousada nas montanhas serve refeições e abriga quem quiser aproveitar o bom ar e a tranquilidade de estar só rodeado de natureza.



Este fim-de-semana fomos chamados para trabalhar na Cave. Como só um pode ir de jipe, eu e o Paul tivemos que ir até à reserva a pé. Mas valeu a pena. A vista é incrível e é fantástica a sensação de só ver natureza à minha volta. Respira-se um outro ar.


Como éramos três o trabalho foi facilmente distribuído. De qualquer forma não escapamos a limpar uma centena de pratos e copos e de manter tudo minimamente limpo. No final acabamos por receber umas cinquenta pessoas.
Mas porque ainda assim o trabalho não é pesado e tendo em conta o frio que estava muitos foram o momentos em frente à lareira saboreando um bom vinho tinto toscano e comendo verdadeiros petiscos italianos. Rapidamente começamos a aperceber que nos sentimos bem ali. Geralmente quem por lá passa são pessoas bastante simpáticas e no final, o carinho e a hospitalidade com que nos tratam valem por todo o trabalho.

08 abril, 2008

Dolce fare niente…


Os primeiros dias na montanha têm sido calmos…tempo para nos ambientarmos ao sitio que nos abrigará nas próximas duas semanas - até ao nosso apartamento em Prato estar disponível. Sem rede nos telemóveis, internet aquando as aparições em Prato parecemos tontos por nos sentirmos novamente na civilização.
No entanto, aqui sinto a tranquilidade e a calma que há tanto procuro. Sei que aqui começo uma nova vida. Ou melhor. Uma nova etapa.
Tenho falado bastante com o Carlo…fala-me da sua vida…de que nunca se casou e que há 60 anos que aqui vive.Falo-lhe de mim e de Portugal.Sinto-me em casa e o meu italiano está cada vez melhor!!!
Aproveito o tempo livre para fazer passeatas e para pôr as ideias em ordem. Num cenário quase edílico penso sobretudo no meu pai. E o sol tímido que bate na minha cara faz-me lembrar a Costa Nova. A minha praia.
Tento deixar para trás memórias e recordações. Aos poucos tudo aqui vai fazendo sentido. As pessoas. A familiaridade.
Tudo tem o seu tempo. Há muito que aprendi isso.

03 abril, 2008

E esta historia começa assim...

Parti de Lisboa ao 12e15.Como esperava a despedida foi dolorosa.Muitas lágrimas.demasiadas para quem estas andanças das viagens já não são novidade.Cheguei a Zurich às 15 e qualquer coisa. Tive que sair do avião com as tralhas todas e voltar a passar a porta de embarque. E mais uma vez entrei num outro avião-por sinal exactamente igual ao que apanhara antes. O voo chegou a Florença até antes da hora- não fosse a swiss air me ter estragado a malinha( que era nova) e da italiana que estava nos “lost and found” me ter deixado à espera quase uma hora. Fui-me divertindo com o seu sotaque e com as vezes sucessivas que dizia “its not my fault Sir…You are in Italy.”Coitada…também não deve ser fácil representar um país que é tanto ou mais confuso e burocrático que o nosso.
Já estava o Franco(presidente da associacao)a desesperar quando finalmente lá passei a porta.
A viagem até Cantagallo foi demorada mas animada. Falamos sobre a organização. A cidade. A reserva natural. Sobre regras. Expectativas.
Depois de km´s curvas que nos levam à montanha finalmente chegamos a Cantagallo. olho à minha volta.so ouço grilos. Só vejo natureza. Respiro ar puro.Sinto-me perto das estrelas. Admiro o céu estrelado. Sei que é aqui e agora que tudo começa. Não poderia estar mais longe da civilização-penso.E gosto dessa ideia.
A chegada não podia ser mais acolhedora. Todos vêm à porta para me receberem.Reencontro a Sónia. Conheço o Emílio e o Paul também meus companheiros neste projecto.
Durante as próximas duas semanas ficarei num quarto com o resto da malta que é alugado pelo Carlo, dono do café aqui da aldeia.leia-se o único café.
O Carlo é um senhor já bastante velhote que vive sozinho.é uma pessoa amorosa e muito bem disposta. Não percebe nada quando falamos em inglês, mas ri-se na mesma. É uma pessoa encantadora e muito prestável. Os meninos dizem que ele gosta é de ter mulheres na sua casa. Que seja…=)

Fui recebida com o jantarinho preparado por todos. Aproveitou-se a ocasião para fazer um brinde ao que por ai vem.ao sucesso do projecto.à felicidade.à nossa.

Deito-me agora com o corpo já a pedir descanso das poucas horas de sono e do cansaço de apanhar dois aviões.

Ainda não tive tempo para sentir nada.estranhesa.saudade.
Quem sabe amanhã quando acordar e perceber realmente que já ca estou.

02 abril, 2008

Prossima Fermata: Prato

Faltam poucas horas para partir. Talvez seja essa ansiedade que me tira o sono neste momento. Sinto o meu corpo e a minha cabeça em autêntica ebulição. Sinto tudo ao mesmo tempo e de várias maneiras.medo.entusiasmo.tristeza. Sei que a despedida anuncia saudade. Afinal ainda são 7 meses no país dos “paninis”.
Por outro lado, muita é a vontade de voltar a sair de Portugal…de continuar a crescer...de aprender.

A síndrome pré-partida instala-se em mim. Caem-me lágrimas em silêncio. Penso em tudo e em todos que deixo por cá.família.amigos.mar.o aconchego da língua de Camões.

Levo na mala a incerteza do que me espera em Prato…mas também a certeza que esta será uma grande experiência…e de que voltarei uma pessoa melhor e mais feliz.

Até breve!!